Siga este Blogue e indique aos seus amigos, eles lhe agradecerão...

domingo, 17 de fevereiro de 2008

A FILOSOFIA E O ESPIRITISMO KARDECISTA

Antes de falarmos da Filosofia e o espiritismo, devemos saber o que é a Filosofia, para podermos compreender melhor o aspecto filosófico do Espiritismo.
O que é Filosofia? Eis a pergunta que se faz, naturalmente, quando se iniciam estudos desta natureza. Tendo o Espiritismo, como se sabe, uma parte filosófica, é natural que procuremos ter, como base de conhecimentos gerais, pelo menos alguma noção do assunto. Filosofia – diz-se – é a Ciência dos porquês, justamente porque trata do porquê das coisas, isto é, explica a origem, a causa das coisas. Isto, porém, é a Filosofia no sentido clássico. Modernamente, com o desenvolvimento das pesquisas científicas, a Filosofia é a actividade que consiste na coordenação dos factos da Ciência, para que se encontre uma causa geral. É a Filosofia aplicada à Ciência. Filosofia é também concepção da vida e do universo. No sentido amplo, porém, Filosofia quer dizer: explicação das causas, do porquê das coisas. Daí chamar-se “a Ciência das primeiras e últimas causas” segundo uma definição clássica. Resumo do assunto: a Ciência examina a coisa, como ela é, de que se compõe, etc.; a Filosofia diz porque a coisa existe, qual a sua causa. Como se vê, a Ciência trata do conhecido, a Filosofia trata do desconhecido. Estas noções, como todas as outras deste estudo, são muito primárias, e por isso não passam de simples embocadura do assunto. Temos, portanto, no Espiritismo, também uma parte filosófica, porque:
a) – A parte científica trata do fenómeno, suas características, a lei que o rege, o mecanismo do fenómeno;
b) – A parte filosófica explica a origem do fenómeno, isto é, porque existe espírito, a sua natureza, e para que fim se dá o fenómeno.
Temos aí, bem definidos, dois campos no Espiritismo kardekiano: o científico e
o filosófico.
FILOSOFIA e CIÊNCIA – O Espiritismo tem uma parte científica e outra filosófica, como já vimos. (Oportunamente trataremos da parte moral, ou religiosa, baseada no Evangelho). Há distinção entre Ciência e Filosofia. A Ciência trata do concreto, enquanto a Filosofia trata do abstracto. A palavra Filosofia quer dizer amor à sabedoria.
Diz a tradição que foi Pitágoras, sábio da antiguidade, quem propôs o uso da palavra filósofo para substituir o qualificativo de sábio, usado entre os antigos.
Realmente filósofo (amigo do saber ou da Ciência) é o que procura a verdade, a razão de ser das coisas, a causa primária do universo e da vida, de acordo com a formação da palavra (Philos–amigo e Sophia–sabedoria, Ciência), ao passo que o
qualificativo de sábio parece arrogante, porque dá ideia de saber tudo, não ignorar coisa alguma. Naturalmente Pitágoras achou a designação de filósofo mais modesta do que a de sábio.
O papel da Ciência, que não é moral nem imoral, não é religioso nem ateu, é examinar, experimentar, comparar, estudar os fenómenos e as suas leis para dizer, no fim de tudo, se uma coisa é ou não é; o papel da Filosofia é dizer porque é que a coisa existe e para que existe. Exemplo: a Ciência estuda o fenómeno, procura a lei do fenómeno, diz qual o agente do fenómeno (espírito, por exemplo) e conclui a sua tarefa, afirmando ou negando; a Filosofia trata da causa que produz a lei, vai buscar a origem do espírito que deu causa ao fenómeno. Temos, pois, no conhecimento humano, três departamentos:
a) A Ciência, que se preocupa com os factos para verificar se é verdadeiro ou falso aquilo que se afirma.
b) A Filosofia, que se preocupa com a origem de tudo o que existe, a causa inteligente que produz o espírito, etc.
c) A Moral, que se preocupa com a aplicação, o fim útil que devem ter as coisas.
Estes departamentos correspondem à seguinte escala:
Ver (Ciência);
Raciocinar (filosofia);
Praticar (moral;
Em suma, A Ciência diz É ou não É; a Filosofia diz PORQUÊ; a Moral diz COMO devemos proceder em face do que aprendemos, qual o uso que devemos fazer do conhecimento.

DIVISÃO DA FILOSOFIA – Divide-se a Filosofia em quatro partes:
Psicologia (Ciência da alma) que estuda os factos da nossa consciência, as nossas emoções, as nossas reacções, etc.;
Lógica (Ciência do raciocínio) que regula a nossa maneira de pensar, estuda as leis do pensamento;
Ética (para alguns, moral) que trata dos costumes, do procedimento humano em face do conhecimento;
Metafísica (para além do mundo físico, acima da física ) estudo geral do Ser, da essência das coisas, da parte invisível dos objectos, da origem do Universo.
Enquanto a Psicologia quer saber SE pensamos, se, de facto, existe em nós o pensamento, a Lógica procura saber COMO pensamos. A Lógica é indispensável ao estudo da Filosofia. Existe, é verdade, a lógica natural, a chamada lógica do bom senso.
Mas a Lógica é uma Ciência, tem as suas leis, seu método para chegar à verdade. A Psicologia refere-se à existência do pensamento, a Lógica refere-se à legitimidade do pensamento. Não basta pensar, é necessário pensar com acerto. Pensamento legítimo, logicamente falando é aquele que não é incoerente ou contraditório. A Lógica trata, portanto do raciocínio. Qualquer indivíduo, por exemplo, pode defender um ponto de vista contrário ao nosso, mas pode acontecer que o raciocínio seja lógico. Há ocasiões, porém, em que o indivíduo pensa, defende suas ideias, mas não tem lógica. Ilustramos este ponto com dois tipos de raciocínios:
1º tipo Deus não existe, porque nunca o vi.
CRÍTICA – Este raciocínio é o que se chama simplista, porque pretende resolver uma questão de transcendental importância com um argumento muito simples.
2º tipo Há muita coisa que nunca vi, não sei como é, no entanto existe. Logo, não
nego a existência de Deus embora nunca o tenha visto.
CRÍTICA – Este raciocínio é mais lógico do que o outro. Por analogia, não nega a existência de Deus, uma vez que há muita coisa que se não vê, mas existe.
A outra parte da Filosofia é a Moral. Compete a Moral ditar as normas do procedimento humano. Chama-se também ética.
De facto, a Filosofia não nos leva somente à especulação, mas à prática, isto é, a aplicação daquilo que aprendemos para um fim: o bem. A ética, portanto, refere-se aos costumes. Depois da moral, vem, finalmente, a Metafísica.
Que quer dizer Metafísica?
Aquilo que está além ou acima da física. A Ciência, como já vimos, trata do que é concreto, tangível, palpável, visível; a Metafísica trata da essência das coisas, daquilo que se não vê, que se não pode medir. No tempo de Aristóteles (Grécia antiga) a Metafísica era o que se chamava Filosofia primeira. Vamos dar um exemplo, a fim de que fique bem compreendido o que é que se entende por Metafísica. Temos uma fruta na mão, suponhamos. Nesta fruta, considerada sob o ponto de vista puramente físico, o que é real, verdadeiro para nós é somente o que se vê, cheira, apalpa, etc.: cascas, caroço, suco e outros elementos. Mas a fruta existe, porque existe a árvore; a árvore, por sua vez, existe, porque lhe deram elemento de vida. Até aí temos apenas a parte física. E de onde vem a vida da árvore? Da natureza, de um plano da criação universal? Estas indagações não pertencem mais à ciência positiva, mas à Metafísica. Com este exemplo vulgar, pretendemos apenas dar uma ideia muito simples do que é Metafísica, a parte mais transcendental, mas subtil da Filosofia. A Filosofia, em suma, dá-nos a ideia da unidade do conhecimento. Algumas escolas filosóficas negaram a Metafísica. O positivismo, por exemplo, desprezou completamente qualquer indagação no campo metafísico. Daí o nome de positivismo, porque se preocupa exclusivamente com o que é positivo, concreto, com o que está ao alcance dos sentidos humanos. Na opinião de Augusto Comte, o fundador do positivismo, a humanidade caminharia na seguinte ordem, de acordo com o que ele denominou a “Lei dos três estados”:
1º Estado Teológico
No estado teológico (período primário) a humanidade crê em Deus, adora ídolos, tem superstições, etc. É o período da religião.
2º Estado Metafísico
O estado metafísico (período intermediário) a humanidade começa a indagar, analisar para saber. É o período, como se vê, da Filosofia.
3º Estado Positivo
O estado positivo (período superior) é, segundo Comte, o estado em que a humanidade abandona a religião, porque não precisa mais da crença, deixa a pura
especulação e entra no terreno positivo. É o período, finalmente, da Ciência. Temos aí a “lei dos três estados”, segundo Augusto Comte. Por entender assim, o positivismo despreza a Metafísica, isto é, coloca o assunto nos seguintes termos: a inteligência humana é incapaz de chegar a conclusão verdadeira acerca de Deus, da origem do universo, etc. Logo devemos deixar de lado tais questões, que são abstractas, inexplicáveis. O positivismo entende que devemos buscar solução de todos os problemas na Ciência positiva e nunca nas abstracções da Metafísica. As escolas filiadas ao materialismo, fenomenismo, positivismo, evolucionismo, etc. negam valor a Metafísica. Temos, até aqui, algumas noções muito rápidas do que vem a ser Filosofia.

Passemos agora à História da Filosofia em linhas gerais.
Noções primárias da História da Filosofia – O berço da Filosofia, como da religião, segundo o que ensinam os autores mais acatados é a Ásia. Justamente por este motivo a História da Filosofia começa pela Filosofia oriental. Entende-se por Filosofia oriental as ideias filosóficas dos países asiáticos (Índia, China, Pérsia) onde realmente despontaram tais ideias. A História da Filosofia dividi-se em quatro períodos:
I – FILOSOFIA ORIENTAL (Antes de Jesus Cristo)
Bramanismo – Budismo - Lao Tse - Confúcio.
II – FILOSOFIA GREGA (Do séc. VII AC ao VI séc. DC)
Pré-socrática - Socrática - Pós-socrática.
III – FILOSOFIA MEDIEVAL (Do séc. IX ao séc. XVII)
Escolástica - Formação, apogeu e decadência
IV – FILOSOFIA MODERNA (Séc. XVII ao séc. XIX)
Racionalismo - Experimentalismo.
V – FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA (Séc. XIX ao séc. atual)
Pragmatismo - Intuicionismo, etc.
Há um período intermediário entre a Filosofia Grega e Medieval ou da idade média: Filosofia Patrística, assim chamada por ter sido a Filosofia dos padres.
Sistematização da Filosofia – Convém notar, desde já, o seguinte: do Oriente veio a Filosofia pura e não a Filosofia sistematizada. Sistematizar quer dizer organizar dividir os assuntos, formar plano de conjunto. Foi isto, precisamente, o que se começou a fazer na Grécia, depois de Sócrates. No Oriente, por exemplo algumas doutrinas filosóficas se confundia, com algumas com as ideias religiosas. Finalmente, a Filosofia Oriental confundiu-se muito com a religião. Há quem diga que não é fácil distinguir, no Oriente, os místicos e os filósofos. É verdade que a Filosofia de Lao Tse não era mística. Mas, no conjunto, os filósofos Orientais parecem muito mais religiosos do que propriamente filósofos, na opinião de alguns críticos e historiadores. Passemos adiante.
De qualquer forma, as ideias filosóficas vieram do Oriente. Os Gregos tiveram, desde o começo, muita preocupação científica. O materialismo e naturalismo, por exemplo, nasceram na Grécia. Enquanto os orientais olhavam muito para cima, isto é, cultivavam a Filosofia pura, abstracta, contemplativa, os gregos procuravam compreender o mundo físico, os fenómenos da natureza sua causa, etc. São da Grécia os três primeiros filósofos clássicos: Sócrates, Platão e Aristóteles. Estes nomes representam três pilastras de cultura humana tão grande, tão marcante foi a influência de Sócrates na Grécia, que a Filosofia Grega ficou dividida em três fases: antes de Sócrates (pre- socrática), durante Sócrates (socrática), e depois de Sócrates (pós- sócratica). Duas ideias fundamentais do Espiritismo foram aceitas no período, aliás brilhante, da Filosofia Grega: a imortalidade da alma e a reencarnação. (veja-se a introdução de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec). SOCRATES –diz Kardec – foi um precursor do Espiritismo, da ideia imortalista, oposta ao materialismo.
As primeiras manifestações do materialismo, na Grécia, estão na teoria de Demócrito. É a teoria atomística, que considera a alma simplesmente um conjunto de átomos. Houve outra teorias do fundo materialista, ainda na Filosofia Grega. Tratemos, porém, da sistematização. A princípio a Filosofia confundia-se com a Ciência. Os gregos dividiram os dois campos: A Ciência trata dos fatos concretos, da natureza, do mundo sensível, a Filosofia cuida do mundo metafísico, do que é abstracto, em suma. A Ciência estuda o conhecido, a Filosofia estuda o desconhecido. Começou, portanto, com os gregos a sistematização dos conhecimentos humanos. Antes de Sócrates, os primitivos filósofos gregos, devendo-se destacar Tales de Mileto, voltaram-se muito para a Natureza. Surgiu assim, a escola naturalista. Nota-se que esses filósofos, apesar
de serem considerados sábios para a sua época, tiveram algumas concepções absurdas senão infantis para nossa época. Basta dizer que, na Grécia, a água e o fogo chegaram a ser considerados elementos causadores da vida! Era na água – pensavam eles – que estavam a origem do mundo!
O ponto mais luminoso, mais alto da Filosofia Grega é o que começa com Sócrates. Há, porém, diferenças importantes entre os três filósofos clássicos: A Filosofia de Sócrates foi essencialmente moral; a Filosofia de Platão foi mais idealista, preocupou-se mais com a ideia pura; A Filosofia de Aristóteles foi naturalista.
Aristóteles faz a primeira classificação das Ciências, classificação adequada à época, e por isso foi substituída, mais tarde, por outras classificações mais desenvolvidas. Apesar de ser um génio, Aristóteles não ficou e nem podia ficar imune de críticas posteriores.
Rejeitou-se, com o tempo, muita coisa do grande filósofo grego. Mas Aristóteles é precursor da Ciência. A Filosofia Aristótelica predominou, durante séculos, na Filosofia Escolástica. Os doutores da igreja, na idade média, adaptaram a Filosofia de Aristóteles (pagão) à teologia católica. Nada se fazia a não ser dentro do padrão escolástico.
Aristóteles passou a ser, para os escolásticos, uma espécie de tabu, porque fora de
Aristóteles tudo era perigoso, duvidoso... Mais tarde veio a reacção. Surgiu a Filosofia moderna, com Descartes e Bacon, propondo outros processos de raciocínio e observação. Tomas de Aquino, um dos maiores vultos da Filosofia medieval, o doutor angélico, segundo a igreja, formou a sua Suma Teológica baseada na Filosofia de Aristóteles e na teologia católica. Mas o prestígio da Escolástica (Filosofia da Idade Média) entrou em decadência, depois de algum tempo. Aristóteles, o fundador da Lógica, criou a famosa Escola peripátetica, assim denominada porque o filósofo ensinava caminhando no jardim perante os discípulos. Sem dúvida alguma, Aristóteles é uma das glórias da humanidade.
Registra-se ainda na Filosofia Grega a escola dos sofistas. Eram indivíduos que zombavam de tudo, não investigavam, mas pretendiam destruir, por hábeis processos de raciocínio, tudo quanto os outros haviam organizado no domínio da
Filosofia. Terminemos aqui, por não estamos fazendo um curso de História da Filosofia, mas comentando alguns pontos da História das doutrinas filosóficas como introdução indispensável à parte filosófica do Espiritismo.
Não podemos esquecer que os conhecimentos básicos ou fundamentais vieram de Aristóteles: a biologia, a psicologia, a lógica, a história natural. Passemos, porém, à Idade Média.
Filosofia Medieval – Como já vimos no esquema, a Idade Média é o período que vai do século IX ao séc. XVII. Depois do apogeu da Idade Média, veio o movimento chamado Renascença, cuja influência se fez sentir principalmente nas artes, na literatura e até na ciência. A Filosofia da Idade Média chamava-se Escolástica porque era ensinada nas escolas medievais. Uma das maiores figuras da Escolásticas foi Tomas de Aquino, doutor da igreja. A Escolástica teve três períodos: formação, apogeu e decadência. Durante a Escolástica, a Filosofia tomista (assim chamada por ser a Filosofia de Tomas de Aquino) teve grande influência na vida intelectual do mundo. O tomismo formou uma síntese dos conhecimentos humanos na seguinte maneira:
aproveitou, como já vimos a ciência organizada na Grécia e adaptou o pensamento de Aristóteles à Suma Teológica, obra destinada a interpretar o pensamento da igreja em face da Ciência e da teologia, isto é, a Igreja perante o temporal e o espiritual. Mas no seio da Escolástica, entre os próprios doutores da Igreja, houve muita divergência.
Formaram-se duas grandes correntes: tomistas e anti-tomistas. Inegavelmente os três maiores vultos da igreja, nesse período, são Tomas de Aquino, Agostinho e Alberto Magno. Entre Tomas de Aquino e Agostinho há concepções diferentes. A Filosofia agostiniana é mais platónica, isto é, pende mais para as ideias de Platão, enquanto a de Tomas de Aquino é aristotélica, apoia-se na ciência de Aristóteles. (Quando estudamos a Filosofia Grega, verificamos que Aristóteles divergiu de Platão em determinados pontos). A escola franciscana, no período da Escolástica, preferiu seguir a orientação de Agostinho, tendo rejeitado a escola tomista. A discussão entre as duas velhas correntes filosóficas da Igreja não feriu as bases da fé, porque se restringiu, como até hoje, a subtilezas filosóficas. Ainda hoje a divergência entre tomistas e agostinianos é assunto debatido apenas entre as elites da Igreja, nas discussões teológicas. Os simples crentes, os homens de fé, é claro, não entram nestes pontos de pura indagação filosófica, aliás sem consequências práticas na fé.
Depois de muito esplendor, a Escolástica (Filosofia da Idade Média) começou a entrar em decadência. Diversas causas concorreram para o desprestígio da Escolástica: a Renascença, a Reforma Protestante, iniciada por Martinho Lutero, a nova concepção da autoridade dos Reis, cujos poderes deixaram de ser considerados de origem divina. Finalmente depois da Idade Média, período em que predominou o pensamento de Aristóteles, interpretado segundo a filosofia Escolástica, veio o que se chama Filosofia Moderna e, com esta, grande revolução na ciência e na filosofia.
Filosofia Moderna – Chama-se moderna a filosofia do século XVII ao séc. XIX. A Filosofia Moderna tomou duas direcções definidas: o racionalismo e o experimentalismo.
Os dois homens que personificaram a Filosofia Moderna são: René Descartes (Francês) e Francis Bacon (Inglês). Deve-se a Descartes e Bacon um dos períodos mais fecundos e mais brilhantes do pensamento humano. Pode-se dizer que a Filosofia Moderna foi um movimento de reacção à Escolástica: foi, para melhor dizer, uma imposição da própria evolução das ideias. Ao chegar ao século XVII, a humanidade estava saturada dos ensinos escolásticos, queria ideias novas, métodos novos, inteligências mais activas desejavam a renovação. Compreendemos muito bem este fenómeno à luz da doutrina: A renovação das ideias é uma características da evolução. Vamos resumir o mais possível as linhas gerais deste grande período. Houve duas correntes na Filosofia Moderna: o
racionalismo ou cartesianismo, com Descartes; o empirismo ou experimentalismo, com Bacon.
O sistema de Descartes chama-se racionalismo, porque é baseado na supremacia da razão; o sistema de Bacon chama-se empirismo porque é baseado na experiência. (A palavra empirismo significava, naquele tempo, experimentar, submeter o objecto às provas práticas; hoje, porém, diz-se empirismo quando se quer dizer que isto ou aquilo é feito sem os métodos científicos: medicina empírica, isto é, medicina dos curiosos, os que não são formados, etc.). Vamos resumir o assunto: Descartes, o espírito matemático, criou o método racional, isto é, o método que tem por base a razão para aceitar a verdade; Bacon criou o método experimental, o método pelo qual tudo deve ser submetido à experiência para que se possa aceitar a verdade.
Embora seja diferente os dois métodos – o de Descartes e o de Bacon – porque um apela para o primado da razão e o outro apela para o primado da experiência, o que é verdade é que esses dois grandes homens abriram o caminho da investigação científica. Antes deles, aceitava-se muita coisa pela fé; depois deles, como que se emancipou o espírito humano, porque a razão e a experiência passaram a decidir no conhecimento. Francis Bacon é, perante a História, o precursor do método experimental.
Aliás, ainda na idade média, outro Bacon tentou introduzir o método experimental na Ciência, mas não pôde realizar os seus planos. Foi o Frade Rogério Bacon.
Tinham razão os dois: Francis Bacon e René Descartes. Não se pode chegar à verdade sem os dois grandes instrumentos: a razão e a experiência. Mas nem um dos dois, por si só é capaz de nos trazer toda a verdade. Já fizemos, neste centro, uma série de estudos comparativos, justamente para que pudéssemos mostrar a posição do espiritismo entre as doutrinas e métodos filosóficos. Lembram-se bem os confrades da exposição relativa a Filosofia Moderna. Dissemos, naquela ocasião, porque o estudo era comparativo, que a Doutrina Espírita concilia muito bem as duas correntes da Filosofia Moderna, uma vez que reconhece o valor tanto da experiência como da razão. Descartes e Bacon prestaram grande serviço à inteligência. Descartes exaltou a razão contra a supremacia da fé; Bacon também recusou o predomínio da fé, mas o fez com base no método experimental. O fim era o mesmo: negar autoridade à fé para dirigir o conhecimento humano.
Durante o período em que se desenvolveu a Filosofia Moderna, surgiram muitas escolas filosóficas. Não nos é possível tratar, aqui, de todas elas, porque se o fizéssemos, ainda que em linhas gerais, sairíamos do fio destes estudos. Assim, pois, simplesmente a título de informação histórica, vamos indicar as principais correntes filosóficas desse período, um dos mais notáveis da História da Filosofia. De passagem, apontamos as seguintes escolas filosóficas posteriores a Descartes e Bacon:
Idealismo – Os partidários do idealismo, embora exaltem muito a ideia, distanciaram-se do idealismo puro de Platão. Os idealistas consideraram a matéria uma representação da ideia. Esta escola filosófica tanto serviu para reforçar certos princípios espiritualistas como para fortalecer a opinião de alguns partidários do materialismo metafísico. Ponto fundamental: a realidade não é matéria, mas a ideia.
Sensualismo – A escola sensualista caiu no materialismo, porque afirmou o seguinte: o conhecimento vem dos sentidos, nada se pode conhecer sem a sensação.
Consequência: fora daquilo que fere os sentidos humano, tudo é incerto, hipotético. Que é isto, senão materialismo?
Criticismo – Em oposição à escola sensualista, Emanuel Kant, filósofo alemão, lançou a Crítica da Razão Pura, formando o sistema que tomou o nome de Criticismo: “Crítica da Razão Pura” e “Crítica da Razão Prática”, sobre a Filosofia e a Moral. Tema central do Criticismo: Nem todo conhecimento vem dos sentidos materiais, porque existe a razão pura, independente dos sentidos humanos.
Fenomenismo – Os fenomenistas afirmam que tudo se explica pela sucessão de fenómenos no universo. Conclusão: não precisamos apelar para a crença em Deus, porque todo o mecanismo universal depende da sucessão de fenómenos sem qualquer inteligência criadora.
Evolucionismo – Esta escola é quase contemporânea da Codificação de Kardec. Spencer desligou-se em parte, do Positivismo e fundou a escola evolucionista.
Característica da escola spenceriana: embora afirme a evolução do mundo material, considera impossível à inteligência humana compreender o desconhecido. Para Spencer o desconhecido é o absoluto ou o incognoscível. Devemos deixar de lado o absoluto, porque nos é impossível compreendê-lo.
Panteísmo – Como o seu nome esta indicando (pan - tudo e theo - Deus) Panteísmo é a doutrina que admite a presença de Deus em tudo. O Panteísmo é muito antigo; seu chefe, nos tempos modernos, foi Spinoza. Segundo o Panteísmo, existe a alma universal e não a alma individual como afirma o Espiritismo. Esta doutrina anula a responsabilidade do espírito após a morte, porque a alma volta para o todo, isto é, a alma universal. O Espiritismo não aceita a tese panteísta. (Ver “O Livro dos Espíritos” cap. I, 1ª parte, no 14).
Convém notar que a Filosofia Moderna, no século XVIII, teve participação no grande movimento chamado Enciclopedismo, cujo espírito preparou a Revolução
Francesa. Houve ainda outras correntes filosóficas, como, o neo-kantismo, o idealismo renovado, o neo- escolasticismo, etc. Tratemos agora do Positivismo, doutrina fundada pelo filósofo Augusto Comte, francês desencarnado precisamente no ano em que Allan Kardec publicou “O Livro dos Espíritos”: 1857. O Positivismo teve grande influência no Brasil. É interessante observar que, tendo nascido em França e sendo francês o seu fundador , o Positivismo teve mais projeção no Brasil que na terra de origem . O Positivismo influiu muito na propaganda e proclamação da República Brasileira. A divisa da Bandeira Nacional - Ordem e Progresso - é de origem positivista. Depois de sua obra científica, Augusto Comte fundou uma religião sem Deus e sem alma, isto é, a Religião da Humanidade. Sob o ponto de vista humano, puramente humano e não espiritual, esta religião tem pontos de coincidência com o Evangelho. O Positivismo tem a seguinte base, sem aceitar a existência de Deus nem a imortalidade da alma: o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim. Tudo isto, sob outro ponto se vista, pode ser aplicado à doutrina cristã. O Evangelho ensina: amai-vos uns aos outros. O Positivismo ensina: viver para outrem. O Evangelho diz: sim, sim, não, não!
O positivismo predica: viver às claras. Mas o que é verdade é que nós esposamos este princípios em função da crença na vida futura, na imortalidade da alma e na existência de Deus; o Positivismo prega também estes princípios, mas o faz em função apenas do amor à humanidade, para a vida presente, na terra. Na forma, existe certa aproximação entre o Positivismo e o Evangelho; no fundo, porém, a separação é absoluta, porque um tem por base a vida futura, depois da morte, enquanto o outro se apoia no princípio de que a imortalidade é subjectiva, isto é, consiste apenas na lembrança dos mortos, no sentimento de respeito. Para, nós, a imortalidade é objectiva, real, porque já está demonstrada.
O Positivismo dividiu-se em dois grupos: o de Littré, que não aceitou a Religião da Humanidade, tendo preferido ficar apenas com a parte científica da obra de Comte, e o de Pierre Lafite, que aceitou integralmente a doutrina positivista. O 1º grupo chamou-se dissidente, o 2º grupo é chamado ortodoxo, porque defende a aceitação total do pensamento de Comte. Augusto Comte fez a seguinte classificação das Ciências:
Matemática – Astronomia – Física – Química – Biologia – Sociologia – Moral.
Desde Aristóteles, os filósofos, pensadores e experimentadores têm procurado classificar as ciências. Houve, por isso, diversas classificações. Mas a que, até hoje, teve mais aceitação foi a de Comte. Para nós, imortalista, a Psicologia é uma das ciências fundamentais, porque é a ciência da alma. Mas é necessário observar o seguinte: Augusto Comte não considerava a Psicologia ciência autónoma, porque, sendo ele positivista, não admitia a existência da alma independente do corpo. Vemos aí apenas a Biologia (ciência da vida ou dos seres vivos), porque, segundo a classificação de Augusto Comte, a Psicologia está enquadrada na Biologia. Depois de Comte, a Psicologia passou a ser uma ciência como as outras, porque se tornou autónoma.
Tratemos, agora, como encerramento desde período de estudos, da Filosofia contemporânea, embora pouco tenhamos a dizer a tal respeito.
Filosofia Contemporânea – Entende-se por Filosofia Contemporânea o conjunto das correntes filosóficas formadas entre o século passado e os dias actuais.
Parece-nos necessário apenas tratar ligeiramente de duas correntes da Filosofia Contemporânea, porque já passaram para a História, enquanto outras, mais novas, ainda estão sendo discutidas ou observadas. As duas principais doutrinas filosóficas deste período são as seguintes: Pragmatismo, de William James, nos Estados Unidos, e o Intuicionismo, de Henri Bergson, na França. A palavra pragmatismo vem de pragma, que quer dizer acção. Assim, pois, o Pragmatismo é a Filosofia da ação, a Filosofia prática. Os pragmatistas entendem que devemos procurar, em tudo, o lado útil; aquilo que não tem utilidade não deve ser objecto de cogitação: se, por exemplo, a ideia de Deus é útil, devemos cultivá-la mas pela sua utilidade e não pela simples crença. Mas o conceito de utilidade foi mais exagerado na filosofia pragmatismo. Para muita gente, útil é o que é imediato concreto. Em suma, o Pragmatismo, para determinados indivíduos, passou a ser uma filosofia puramente utilitária, a filosofia do interesse.
Todas as escolas filosóficas têm espíritos radicais. O Intuicionismo é uma doutrina que afirma a supremacia da intuição sobre a inteligência. Para Bergson (desencarnado há poucos anos) a inteligência não pode compreender as coisas transcendentais. O problema de Deus, por exemplo, escapa às possibilidades da inteligência. É pela intuição, conhecimento superior, que podemos compreender certas questões, como o destino humano, a justiça divina, etc. A inteligência apenas pode compreender o que é finito, limitado, material. A doutrina de Bergson é muito discutida, até mesmo entre filósofos católicos. Para alguns críticos, Bergson não é , a rigor, um filósofo; na opinião de outros, Bergson pode ser considerado um verdadeiro filósofo. Certos teólogos acham que a teologia de Bergson veio demolir a fé; alguns católicos conciliadores entendem, ao contrário, que o criador do Intuicionismo não ofendeu a fé. Como se vê, a filosofia bergsoniana ainda está sujeita a muitas opiniões divergentes. Aqui termina a exposição, aliás muito sumária, das escolas filosóficas.

1 comentário:

Leonardo Chaves disse...

Apresentação muito didática e correta. Também tenho um artigo desse jaez: "Análise Filosófica do Espiritismo" www.widukind.net

A Natureza é assim... Deus nos ensina se soubermos estar atentos...

A Natureza é assim... Deus nos ensina se soubermos estar atentos...
"Espíritas! Amai-vos, eis o primeiro mandamento; Instruí-vos, eis o segundo."