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domingo, 6 de janeiro de 2008

O espírita conservador

Você já deve ter ouvido falar nisso



Alguns amigos, muito carinhosamente, me convidam a fazer palestras nos centros espíritas onde participam em algumas cidades. Quando eu chego lá, fazem a seguinte recomendação:

"Olhe, Alamar. Eu adoro o seu estilo, a forma como você fala do Espiritismo. Estou contigo e penso da forma como você pensa, adoro a sua autenticidade e a sua coerência, mas eu queria lhe pedir pra ter muito cuidado com o que você vai falar na palestra aqui, porque o seu Fulano é muito conservador e ele é o presidente da casa, entende? Tem também a dona Ciclana, que é muito conservadora também, sabe?"

Eu não sou o único expositor espírita a ter recebido esse tipo de recomendação não, vários outros, inclusive o próprio Divaldo, o Raul e outros estão cansados de ouvirem isto.

Agora analisemos esta questão, já que a Doutrina Espírita, na sua excelência, sugere-nos raciocinar sempre em cima de todas as questões. Veja bem: não apenas em cima de algumas questões, mas em cima de TODAS as questões.

O que é ser conservador, em termos de Espiritismo?

Em princípio poderíamos entender que esse conservador aí seria no sentido de coerência com a Doutrina Espírita, coerência com o Evangelho, coerência com Kardec, coerência com Jesus, com o pensamento dos Espíritos da Codificação Espírita etc, não é verdade?

Claro. Teria que ser alguém que não abrisse mão da fidelidade doutrinária, não cedesse a concessões, quaisquer que fossem as argumentações de que palestrante fosse, que viessem a estar em reais contradições com as propostas do Espiritismo.

Mas será que a coisa é assim?

Observemos bem: Para alguém ser coerente com o Espiritismo, implicitamente tem que ter alguma coerência com Jesus que, segundo a nossa obra básica, é o maior modelo e guia que Deus nos deu.

Então reflitamos numa exigência básica:

Esse tal dirigente, altamente conservador, deve:

Não julgar os outros - Jesus ensina isto

Não fazer aos outros aquilo que não gostaria que os outros lhe fizessem e fazer aquilo que gostaria que lhe fizessem- Jesus ensina isto.

Não atirar primeira pedra nem pedra nenhuma em ninguém - Jesus ensina isto.

Não apontar argueiro no olho dos outros enquanto ele tem trava no seu - Jesus ensina isto.

Não ferir com ferro, para não ser ferido - Jesus ensina isto.

Será que esses espíritas "conservadores" estão conservando estes detalhes?

Observemos como é que, normalmente, se comportam a maioria desses tais espíritas conservadores:



A verdade está comigo. Quem não vê o Espiritismo exatamente como eu vejo, conforme a interpretação da minha cabeça, não fala na casa espírita onde eu dirijo, não escreve o meu jornal, tem os seus livros proibidos por mim e está condenado ao fogo do inferno, ou do Umbral.



Isso aí é coerência com quem? Com Kardec? Com Jesus?

Alguns desses conservadores são contra as obras de J. B. Roustaing, Pietro Ubaldi e outros autores. Eles não admitem essas obras, não aceitam em suas casas e não recomendam as suas leituras.

Até aí está tudo bem e dentro do normal, porque eu, você e todos temos o direito de gostar ou de não gostar de determinadas obras, temos o direito de gostar mais ou de gostar menos de determinadas outras e por aí vai.

Eu, particularmente, não sou muito chegado a onda da "romançologia" espírita, muito comum em nosso movimento, aquele tipo de livros que muitas editoras adoram fazer e muito centro espírita adora comprar, sob a argumentação do "vende muito e traz muito dinheiro pra casa". Prefiro mais as obras que tratam dos alicerces doutrinários e também aquelas que falam do comportamental humano.

Mas será que, por causa desta minha preferência, ser-me-ia lícito proibir que na livraria de um centro espírita dirigido por mim eu proibisse a venda de romances, só porque não é a minha preferência?

E o respeito ao direito das pessoas que apreciam esse tipo de obra, onde ficaria?

Que diabo de conservadorismo seria esse meu em fazer a casa espírita conforme a minha vontade, conforme a minha ótica?

Mas aí, alguns desses ditos conservadores alegam:

- "Alamar, o Espiritismo é um só, tudo está muito claro em suas obras básicas, não tem margem para interpretação e tudo está muito definido"

Que conversa mais besta é essa?

É aí que eu pergunto: Em quais obras básicas?

Claro, como? Que clareza é essa?

Algumas pessoas estão no Espiritismo há 20, 30 ou 50 anos e mantém na estante da sua casa aquela tradução da obra básica de um só tradutor, o tempo todo, cujas páginas já não estão nem mais amarelas, estão marrons, tamanho é o tempo.

Tudo bem, aceitemos que elas já as tenha lido por algumas vezes e até repetidas vezes, principalmente "O Evangelho, segundo o Espiritismo", que muitos espíritas abrem sempre no meio, e dizem que foram os espíritos que conduziram a abertura exatamente naquele ponto, porque era o que as pessoas presentes, ou ela mesma, estavam precisando ouvir.

Será que esse tal conservador já teve a disposição ou curiosidade de estudar, não apenas ler, em outras traduções, comparando determinadas questões com aquela que ele tem, há séculos, em sua casa?

Já procurou fazer a si mesmo as seguintes perguntas:

- "Será que a tradução da obra básica espírita, que eu tenho, traz fielmente o pensamento de Kardec e dos Espíritos?"

- "Será que o brasileiro que fez a tradução, refletiu em todas as questões, em todas as respostas e em todos os detalhes exatamente como o francês entende?"

É aí que entra outra manifestação de radicalismo:

- "Alamar, você gosta muito de tumultuar, é por isto que o movimento reage contra você. Por que razões você vem levantar essas questões que não levam a nada?"

Se analisarmos bem, o movimento reagiu contra o Dr. Bezerra, reagiu contra o Chico, contra o Divaldo, contra o Deolindo e até mesmo contra o próprio Kardec.

Desculpe, meu amigo e minha amiga, é porque eu recuso-me a ser um espírita imbecil. Prefiro ser um espírita que pensa e que raciocina, conforme nos ensinou Kardec o tempo todo. Espírita dogmático, jamais.

É aí que eu pergunto:

Como é que pode um espírita conceber a obra básica do Espiritismo como sendo a Palavra de Deus, a obra sagrada, inquestionável, indiscutível e "imexível", como dizia o Magri?

Que doutrina racional é essa, que essas criaturas dizem tanto praticar?

"Isto não é espiritismo!!!!" é uma das frases mais comuns que escutamos das bocas dos pseudos donos da verdade e arautos da "pureza" doutrinária.

É óbvio que não devemos, mesmo, misturar tudo quanto é prática que existe por aí, se dizendo Espiritismo, nos centros espíritas. Só que para isto é preciso um processo de discernimento com muita inteligência e muito bem dosada, para evitar erros para mais ou para menos.

É exatamente isto que está faltando no meio espírita! As pessoas abrem concessões, sem analisarem profundamente aquilo que querem trazer para a casa espírita enquanto outras proíbem, também, propostas e idéias que trazem para a casa espírita, sem se darem ao trabalho de uma análise mais criteriosa, bem pensada e aprofundada. Tanto uma postura quanto é outra é prejudicial ao Espiritismo.

A praga do achismo é que está mandando, nas duas situações.

Eu acho que Fulano é anti-doutrinário e pronto, simplesmente eu passo a condená-lo e a recomendar a todos que não o aceitem.

Eu acho que isto é bom para o centro espírita que eu dirijo e permito que seja praticado aqui, porque "não vejo nada de mal nisto".

E muitos espíritas bestas se deixam ir na onda dessas frágeis lideranças.

Que diabo de coerência espírita é essa?

Tem gente condenando a obra do Bacelli, por exemplo, sem nunca tê-la lido, só porque o "dono", ou a "dona", do centro espírita onde freqüenta disse que é obra "demoníaca"!

Está certo isto??? Não é que eu queira aqui dizer que a obra dele seja maravilhosa e muito menos fazer propaganda, porque nem tive a oportunidade de ler. Ele me deu um dos livros de presente, não tive tempo de ler ainda, alguém pegou emprestado, como sempre fazem alguns "amigos", e não me devolveu ainda.

Como é que eu vou condenar o que eu não conheço??????? Não posso elogiar, mas não posso também, muito menos, condenar.

Se não é coerente com Jesus condenar o que a gente conhece, como pode um espírita que se diz conservador querer falar em coerência doutrinária condenando o que não conhece?

Você sabia que mais de 90% dos espíritas que condenam as obras de Roustaing, Pietro Ubaldi, Ramatis e outras nunca leram nenhuma delas?

Agem apenas como fantoches e marionetes das santificadas personalidades que elegeram como suas orientadoras espirituais, que são os donos dos centros onde elas freqüentam.

Conheço um desses conservadores espíritas, com mais de 50 anos de Espiritismo, que "perdeu" a sua esposa pela desencarnação há pouco mais de dois anos, mas quando recebe a visita do Divaldo ou do Raul em sua cidade, vai até o pé do ouvido dos conhecidos médiuns e faz a célebre pergunta:

- "Que tal. Tem alguma notícia dela?"

Geralmente ao pé do ouvido mesmo, cochichando, sem exagero de minha parte.

Agora veja só que coisa:

Ele dirige uma mediúnica no seu centro, há várias décadas, afirma que ali encontra-se o supra sumo da coerência doutrinária e da prática espírita como deve ser feita, já que se acha detentor da verdade absoluta, mas implicitamente não acredita muito na competência do seu trabalho mediúnico.

Perguntemos: Por que a sua mulher, que fora também trabalhadora da casa, não daria comunicação ali mesmo onde sempre teve tanta afinidade e teria que fazer necessariamente através do Divaldo, que mora em Salvador e do Raul, que mora no Rio de Janeiro, a não sei quantos quilômetros da sua cidade?

Está vendo quanto espírita de fachada existe por aí?

E ele é tido como um dos conservadores, que eu estou falando aqui nesta matéria.

Deixe eu contar uma experiência recente:

Fui convidado por uns amigos e amigas muito queridos e carinhosos, em outubro passado, a passar um final de semana na maravilhosa cidade de Baurú, no interior de São Paulo, onde faria palestra em alguns centros espíritas e um seminário em um deles, no sábado a tarde.

Pois bem: Esses amigos, com antecedência, começaram a organizar uma agendazinha do evento, e ofereceram o visitante, primeiro, para o maior centro espírita da cidade, que é o CEAC (Centro Espírita Amor e Caridade), fundado e dirigido pelo meu amigo, o extraordinário Richard Simonetti, um dos espíritas mais lúcidos que eu conheço, que inclusive me deu a honra de hospedá-lo em sua casa, em outra ocasião, quando vínhamos da cidade de Andradina, depois de um evento em que nós dois fomos os expositores, também interior de São Paulo.

Só que receberam de um dos dirigentes da casa a seguinte resposta:

- "O quê? O Alamar aqui no CEAC? Nunca!!! nós não permitimos mesmo, ele aqui não fala".

Tudo bem. As pessoas me agendaram em outros centros da cidade, fui lá, fiz as minhas palestras, aprontaram lanches, salgadinhos e muita comida em todos os centros, já que sabem que adoro centro espírita onde tem o que comer, e foi uma beleza. Fui tratado com muito carinho e em quase todos os momentos fui aplaudido de pé, o que, modéstia a parte tem ocorrido.

Só que tem um detalhe bastante interessante que você precisa saber:

No primeiro dia que cheguei à cidade, com muita saudade do meu outro querido amigo Dr. Hernani Guimarães Andrade, manifestei o desejo de visitar o Richard Simonetti, em sua casa, por três motivos: Primeiro porque eu gosto muito dele, segundo porque ele havia sido submetido a uma seríssima intervenção cirúrgica e terceiro porque geralmente quando a gente vai lá tem sempre uns biscoitinhos muito gostosos que a Zélia serve pra gente.

O Richard não estava podendo receber visitas mas, quando comunicado, disse fazer questão de receber a minha visita.

Ficou muito feliz na manhã de sábado que passamos juntos em sua casa, batendo um longo papo, quando ele fez a seguinte pergunta à mim e às anfitriãs que me levaram até lá:

- "Que bom, o Alamar aqui em Baurú. Quando é que você vai nos dar o prazer de fazer uma palestra lá no CEAC?"

E agora? O que dizer ao ilustre e notável espírita num momento daquele, em que ele estava convalescendo de uma delicada cirurgia?

Saibam, amigos, que o Richard é a "estrela" maior do CEAC, este escritor fantástico que todo o Espiritismo brasileiro e internacional conhecem, acostumado também a fazer palestra em New York e em vários outros países da Europa, das Américas e de tudo quanto é canto.

Perceberam o que é capaz de fazer um desses "conservadores" espíritas?

Conservam o quê, pelo amor de Deus?

A essência da doutrina espírita ou os princípios adotados pelo Tomás de Torquemada?

Sugiro que o movimento espírita reveja certos conceitos e questione mais esses tais conservadores sobre as suas posturas que na maioria das vezes são absolutamente incoerentes.

É importante que todos tomem conhecimento de que o Espiritismo não é um picadeiro de circo para que determinados elementos pratiquem tanta palhaçada, em nome da seriedade e da pureza.

Se que o futuro do Espiritismo será aquilo que os espíritas fizerem dele, como assevera Leon Denis, que os espíritas tomem um pouco mais de juízo e alguns, se possível, também um pouco mais de vergonha na cara para que a Doutrina não fique prejudicada e possa ser, por muitos séculos, um bálsamo para milhões e até bilhões de humanos que tanto sofrem, e sofrerão, vitimados pela ignorância da realidade espiritual.

Relembro a citação do velho Sargento Gatinho, no tempo em que eu era um jovem sargento da Aeronáutica, com 21 anos de idade:

"A preocupação do imbecil, quando elevado à categoria de chefe, é ostentar a autoridade.



Amém.



Abração a todos e que este novo ano seja de muita Paz, Harmonia, saúde e coerência.





Alamar Régis Carvalho

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A Natureza é assim... Deus nos ensina se soubermos estar atentos...

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"Espíritas! Amai-vos, eis o primeiro mandamento; Instruí-vos, eis o segundo."