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sábado, 8 de novembro de 2008
AMIGOS DE INFÂNCIA
AMIGOS DE INFÂNCIA - Parte VIII
O retorno ao lar era um momento que para a maioria representava oportunidade de recomeço, a caminhada da volta parecia muito mais longa, exigindo maior concentração , tempo certo para reflexionar sobre erros e acertos .
As comitivas se distanciavam mais pois não havia tempo certo para chegar , a maioria aproveitava para visitar parentes distantes e amigos de grande apreço. Outros apressavam-se com medo de bandidos e saqueadores que aproveitavam a fraqueza dos peregrinos para fazerem emboscadas constantes.
Entre um monte de pedras havia um homem caído, parecia desacordado e muito perto do abismo, não era possível sem que houvesse aproximação verificar se estava morto ou apenas ferido.
Jesus e sua família que vinham um pouco mais atrás ouviu quando o primeiro homem observou a cena e disse aos seus diletos.
- Cuidado não se aproximem, deve ser um vagabundo ou quem sabe ladrão ! Pois que mereça seu destino , deixem aí o cretino !
Outros que vinham um pouco mais atrás aguçavam a curiosidade, mas a insegurança e a covardia, fazia com que aumentassem dos passos a velocidade. Mães protegiam seus filhos daquela cena dantesca e terrível, preocupação materna ao que lhes parecia ameaçador e temível.
A medida que iam passando se distanciavam e nada faziam, e sem a mínima caridade de alguém o pobre corpo alí jazia.
Alguns arriscavam comentários sobre o ocorrido , mas a meras opiniões ou intenções sem ações tudo se resumia.
A medida que se aproximavam Jesus disparou a correr em direção ao homem desfalecido, contrariando até mesmo as ordens de uma aflita e preocupada mãe Maria.
Desceu pela pequena ribanceira, e ajoelhado aos seus pés verificou que ainda respirava, chamando o seu pai José, pediu que procurasse a ajuda de outros homens para juntos tentarem colocá-lo em pé.
Clamor em vão, negavam-se sem nenhuma pena ou comoção, julgavam e atribuam ao pobre coitado a alcunha de louco ou marginal, chegavam a desejar que seria melhor que morresse alí como um reles animal, pois assim não atrapalharia mais a jornada de quem era bom e normal.
- Pobres de espírito, não sabem o que fazem ! - exclamou Jesus baixinho, muito mais penalizado por eles do que pelo homem padecendo a beira do caminho.
José voltou sózinho e vendo o filho clamar a Deus pelos homens sem compaixão, não hesitou a perguntar :
- Porque sentes e pedes a Deus por estes homens sem coração ?
- Porque meu pai são eles que ainda não descobriram o que é AMAR, a única via que os fará chegar ao reino da salvação, pois para o reino de Deus , a caridade é uma porta estreita e de única mão. Peço a Deus por eles pois nunca ouví falar que precisam de médicos os sãos ...
Com muito esforço os dois ergueram o pobre homem ferido, limparam-lhe o sangue , refrescaram-no a sombra, molharam seus lábios, até que abriu os olhos e pode contar o que havia lhe acontecido.
Estava muito assustado mas percebeu que podia confiar nas pessoas que estavam ao seu lado.
Voltava antes para casa pois a esposa acabara de dar a luz a um menino, deixou-a por breve tempo apenas para ir ao templo agradecer a dádiva de um herdeiro varão que tanto esperava como um presente divino.
Acelerou a volta, dispersando-se do resto da caravana para que pudesse logo ter o filho amado pelos seus braços protegido.
Correu tanto que o cansaço tomou conta e deitando embaixo de uma árvore para descansar ao relento , foi vítima de um assaltante implacável e violento.
Que bateu-lhe e levou todas as suas provisões, e só não o matou porque o homem implorou a misericórdia de Deus para que o seu rebento não deixasse orfão.
Após ouvirem o seu comovido depoimento, trataram suas feridas e deram-lhe algum alimento, para que pudessem ajudar um pouco mais na sua recuperação, colocaram-no sobre o lombo do burro, para que pudesse se locomover melhor e chegasse ao lar, onde graças ao afeto familiar havia permanecido o seu coração.
Fizeram o restante da viagem em paz e clima de harmonia, e tão logo amanhecera o dia puderam avistar os casarios.
O homem que havia sido salvo não era rico, mas desfrutava uma vida farta e tranquila, e chegando ao seu destino em tão boa companhia , seguro e quase curado, achou por bem e dever que uma recompensa devia lhes oferecer. Pegou uma jóia da esposa que muito devia valer e ofereceu a Jesus que havia lhe feito as vezes de um anjo pequenino, como forma de gratidão.
O Menino agradeceu o gesto de bondade, mas negou aceitar aquela remuneração, abraçou seu novo amigo e fez observação;
- A um gesto de caridade incondicional a um irmão, a mais valiosa forma de gratificação , é poder ver o sorriso de Deus no olhar e nos lábios de quem recebeu a doação .
Sendo assim despediram-se em um abraço cheio de compromisso de perpetuarem uma amizade sincera , que em nada parecia ter começado em um momento de dor.
Para o lar agora seguiriam com sentimento de alegria e a alma repleta de amor. O silêncio lembrava uma singela prece que o momento delicioso propiciava, o menino elevava-se em bons pensamentos, apreciando a paisagem maravilhosa que a leve brisa embalava . E no final daquele dia sem maiores contratempos puderam repousar um descanso merecido, em limpo e confortável aposento.
Quando retornarmos ao lar verdadeiro, que é a pátria espiritual, teremos a certeza do dever cumprido, do aproveitamento do aprendizado moral ?
Será que estamos sabendo acolher um irmão "doente" ou simplesmente estamos reclamando que estão atrapalhando nossa viagem e passando indiferentes sem reconhecê-los como tal ?
(Texto e Desenho - Paty Bolonha - 2008 )
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