Um assinante da RE, excelente médium psicógrafo, escreveu a Kardec relatando a
visão, que teve, de um parente desencarnado. Ele, descreve o assinante da revista, era
um homem excelente, vivo, arrebatado, mas imperioso com os criados e, sobretudo,
extremamente apegado aos seus bens. Cético, não se ocupava com nada que se referisse
à vida espiritual.
Pouco mais de três meses após a sua morte, procurou-o à noite e se pôs a sacudir
as cortinas, procurando chamar atenção, passando a relatar o motivo da sua vinda.
Pedia-lhe auxílio, porque era a única pessoa que, acreditava, poderia ouvi-lo. Sua
mulher e seu filho viajaram para Orleans. Queria visitá-los, mas nenhum servo obedecia
às suas ordens. Dissera a Pedro, um deles, que fizesse suas malas, mas ele não o
escutava. Ninguém lhe dava atenção. Queria que ele fosse atrelar os cavalos à outra
carruagem, preparar sua bagagem e assim ele poderia juntar-se à sua mulher em
Orleans.
O médium perguntou ao Espírito, por que ele mesmo não tomava essas
providências? O Espírito respondeu que depois do sono que experimentou, após a sua
doença, não era capaz de levantar coisa alguma. Sentia-se mudado, como que num
pesadelo.
À pergunta se ele vinha do castelo, o Espírito respondeu que vinha do cemitério e
dando um grito de horror, desapareceu.
O médium soube, no dia seguinte, que realmente a viúva e o filho tinham partido
para Orleans!...
Comentário de Kardec. Esta aparição é sobretudo notável pela ilusão que têm certos
Espíritos, supondo-se ainda vivos. O Espírito via tudo como quando vivo; surpreende-se
por não ser ouvido, quando fala; julga ocupar-se com suas tarefas habituais.
A existência do perispírito é aqui demonstrada de maneira notável. Uma vez que se
julga vivo , é que vê seu corpo em tudo semelhante ao que deixou, nada lhe parece
mudado e só se espanta porque não pode movimentar os objetos como o fazia..
Compreende-se que o seu apego à matéria, o retenha após a morte. A resposta que deu,
que vinha do cemitério, demonstra que o desprendimento não sendo completo, existia
uma espécie de atração entre o Espírito e o corpo. A própria pergunta, porém, parece
que o levou a começar a compreender a sua situação, daí o responder com pavor!
RE dez/1859
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