A CARIDADE
Pelo Espírito de São Vicente de Paulo
Sêde bons e caridosos - eis a chave do céu, posta em vossas mãos; toda a felicidade eterna está contida nesta máxima: "Amai-vos uns aos outros." Não pode a alma elevar-se ás regiões espirituais senão pela dedicação ao próximo; ela não encontra felicidade e consolação senão nos arroubos da caridade. Sede bons, ajudai aos vossos irmãos, ponde de lado essa horrível chaga do egoísmo. Esse dever cumprido vos deve abrir as vias da felicidade eterna. Aliás, entre vós quem não sentirá o coração pulsar e a alegria expandir-se pela prática de uma obra de caridade? Não deveríeis pensar senão nesta espécie de volúpia proporcionada por uma boa ação, com o que ficaríeis sempre no caminho do progresso espiritual. Não vos faltam exemplos: só a boa vontade é que rareia.
Vêde a multidão de homens de bem, cuja lembrança piedosa a vossa história relembra. Eu vo-lo citaria aos milhares, aqueles cuja moral só tinha um fito - melhorar o vosso globo. Não vos disse o Cristo tudo quanto concerne às virtudes de caridade e do amor? Por que são postos de lado os seus divinos ensinamentos? Por que tapam os ouvidos às suas divinas palavras e cerram o coração a todas as suas máximas suaves?
Gostaria que a leitura do Evangelho fosse feita com mais interesse pessoal. Mas abandonam esse livro, transformam-no em expressão vazia e letra morta; deixam ao esquecimento esse código admirável. Vossos males provem do abandono voluntário em que deixais esse resumo das leis divinas. Lede, pois, essas páginas de fogo do devotamento de Jesus e meditai-as. Eu mesmo me sinto envergonhado de ousar prometer-vos um trabalho sobre a caridade, quando penso que nesse livro encontrarias todos os ensinamentos que vos devem levar às regiões celestes.
Homens, fortes, abraçai-vos; homens fracos, forjai as vossas armas, de vossa doçura e da vossa fé; tende mais persuasão, mais constância na propagação de vossa nova doutrina. Nós só vimos trazer-vos um encorajamento; é apenas para vos estimular o zêlo e as virtudes que Deus permite nos manifestemos a vós. Mas se quisésseis, não necessitaríeis senão do auxílo de Deus e de vossa própria vontade. As manifestações espíritas não foram feitas para os olhos fechados e para os corações indóceis. Há entre nós, homens que devem realizar missões de amor e de caridade: escutai-os, exaltai a sua voz; fazei resplandecer os seus méritos e vós próprios sereis exaltados pelo desinteresse e pela fé viva de que vos penetrardes.
Muito extensos seriam os avisos que vos deveriam ser dados sobre a necessidade do alargamento do vosso círculo de caridade e de neles incluir todos so infelizes cujas misérias são ignoradas, todas as dores que devem ser buscadas em seus próprios redutos, para consolar em nome desta virtude divina: a caridade. Vejo com satisfação que homens eminentes e poderosos ajudam esse progresso, que deve unir todas as classes humanas - os felizes e os desgraçados. Coisa estranha! Todos o infelizes se dão as mãos se ajudam reciprocamente na sua miséria. Por que são os felizes mais difíceis de ouvir a voz do infeliz? Por que há de ser uma poderosa mão terrena que tenha de dar impulso às missões de caridade? Por que não respondem com mais ardor a esses apelos? Por que deixam que a miséria, assim como o prazer, manchem o quadro da humanidade?
A caridade é a virtude fundamental, que deve sustentar todo o edifício das virtudes terrenas. Sem ela não existem as outras. Sem caridade não há fé nem esperança, porque sem a caridade não há esperança de uma sorte melhor, nem interesse moral que nos guie. Sem caridade não há fé, porque esta é um puro raio, que faz brilhar uma alma caridosa; a caridade é a sua conseqüência decisiva.
Quando deixardes que o vosso coração se abra à súplica do primeiro infeliz que vos estender a mão; quando lhes derdes sem indagar se sua miséria é fingida ou se seu mal tem um vício como causa; quando deixardes ao Criador o castigo de todas as falsas misérias; enfim, quando praticardes a caridade pelo só prazer que ela proporciona, sem visardes a sua utilidade, então sereis os filhos amados de Deus e ele vos chamará a si.
A caridade é a âncora eterna de salvação em todos os globos: é a mais pura emanação do próprio Criador; é a sua própria virtude, dada às criaturas. Como poderíeis desconhecer esta suprema bondade? Com tal pensamento, qual seria o coração bastante perverso para recalcar e repelir esse sentimento divino? Qual seria o filho suficientemente mau para se rebelar contra a doce carícia da caridade?
Não ouso falar daquilo que fiz, porque os Espíritos também têm o pudor de suas obras. Mas penso que a obra que iniciei é uma daquelas que devem contribuir muito para aliviar os vossos semelhantes. Com freqüência vejo Espíritos que pedem a missão de continuar a minha obra; vejo essas minhas suaves e queridas irmãs em seu piedoso e divino ministério; vejo-as a praticar a virtude que vos recomendo, com toda a alegria proporcionada por esta existência de devotamento e de sacrifícios. É para mim grande felicidade ver quanto seu caráter é bastante honrado, quanto sua missão é apreciada e docemente protegida. Homens de bem, de boa e forte vontade, uni-vos para continuar, ampliando a obra de propagação da caridade. Encontrareis a recompensa nesta virtude, pelo seu próprio exercício. Não há alegria espiritual que ela não proporcione, já na presente existência. Sede unidos; amai-vos uns aos outros, conforme os preceitos do Cristo.
Assim seja.
- Revista Espírita de 1858 - mês de agosto -
Enviado pelo amigo e colaborador do jornalinho Braz José marques
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segunda-feira, 2 de junho de 2008
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