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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

As Rosas do Infinito

Livro: Contos e Apólogos
Irmão X & Francisco Cândido Xavier



Em deslumbrante paisagem da Esfera superior, diversos mensageiros se
congregavam em curioso certame. Procediam de lugares diversos e traziam
flores para importante aferição de mérito.

Na praça enorme, pavimentada de substância semelhante ao jade, colunas multicores exibiam guirlandas de soberana beleza.

Rosas de todos os feitios e cravos soberbos, gerânios e glicínias,
lírios e açucenas, miosótis e crisântemos exaltavam a Sabedoria do
Criador em festa espetacular de cores e perfumes.

Envergando túnicas resplendentes, servidores espirituais iam a vinham, à espera dos juizes angélicos.

A exposição singular destinava-se à verificação da existência de
luz divina, nos múltiplos exemplares que aí se alinhavam, salientando-se
que os espécimes com maior teor de claridade celeste seriam conduzidos
ao Trono do Eterno, como preito de amor e reconhecimento dos
trabalhadores do bem.

Os julgadores não se fizeram esperados.

Quando a expectação geral se mostrava adiantada, três emissários
da Majestade Sublime atravessaram as portas de dourada filigrana e,
depois das saudações afetuosas, iniciaram o trabalho que lhes competia.
Aquele que detinha mais elevada posição hierárquica trazia nas mãos uma
toalha de linho translúcido, o único apetrecho que certamente utilizaria
na tarefa de análise das preciosidades expostas.

Cada ramo era seguido de pequena comissão representativa do serviço espiritual em que fora elucidando.

Aproximou-se o primeiro grupo, trazendo uma braçada de rosas,
tecidas com as emoções do carinho materno que, lançadas à toalha
surpreendente, expediram suaves irradiações em azul indefinível, e os
anjos abençoaram o devotamento das mães, que preservam os tesouros de
Deus, na posição de heroínas desconhecidas.

Logo após, brilhante conjunto de Espíritos jubilosos deitou ao
pano singular uma coroa de lírios, formados pelas vibrações de fervor
das almas piedosas que se devotam nos templos ao culto da fé. Safirinas
emanações cruzaram o espaço e os celestes embaixadores louvaram os
santos misteres de todos os religiosos do mundo.

Em seguida, alegre comissão juvenil trouxe a exame delicado
ramalhete de açucenas, estruturadas nos sonhos e nas esperanças dos
noivos que sabem guardar a Bênção Divina, e raios verdes de brilho
intraduzível se projetaram em todas as direções, enquanto os emissários
do Todo-Misericordioso entoaram encômicos aos afetos santificantes das
almas.

Lindas crianças foram portadoras de formosa auréola de jasmins,
nascidos da ternura infantil, e que, depostos sobre a toalha miraculosa,
emitiram alvíssima luz, semelhante a fios de aurora, incidindo sobre a
neve.

Depois, pequeno agrupamento de criaturas iluminadas colocou, sob
os olhos dos anjos, bela grinalda de cravos rubros, colhidos na
renunciação dos sábios e dos heróis, a serviço da Humanidade, que
exteriorizaram vermelhas emanações, quais se fossem constituídas de
eterizados rubis.

E, assim, cada comissão submeteu ao trabalho seletivo as jóias que trazia.

O devotamento dos pais, os laços esponsalícios, a dedicação dos
filhos, o carinho dos verdadeiros amigos, a devoção de vários matizes
ali se achavam magnificamente representados pelas flores cuja essência
lhes correspondia.

Em derradeiro lugar, compareceu a mais humilde comissão da festa.

Quatro almas, revelando características de extrema simplicidade,
surgiram com um ramo feio e triste. Eram rosas mirradas, de cor
arroxeada, mostrando pontos esbranquiçados a guisa de manchas, a
desabrocharem ao longo de hastes espinhosas e repelentes. Depostas, no
entanto, sobre a mágica toalha, inflamaram-se de luz solar, a
irradiar-se do recinto à imensidão dos Céus.

Os três anjos puseram-se de joelhos. Inesperada comoção encheu de
lágrimas os olhos espantados da enorme assembléia. E porque alguns dos
presentes chorassem, com interrogações imanifestas, o grande juiz do
certame esclareceu, emocionado:

-Estas flores são as rosas de amor que raros trabalhadores do bem
cultivam nas sombras do inferno. São glórias do sentimento puro, da
fraternidade real, da suprema consagração à virtude, porque somente as
almas libertas de todo o egoísmo conseguem servir a Deus, na escória das
trevas. Os acúleos que se destacam nas hastes agressivas simbolizam as
dificuldades superadas, as pétalas roxas simbolizam o arrependimento e a
consolação dos que já se transferiram da desolação para a esperança, e
os pontos alvos expressam o pranto mudo e aflitivo dos heróis anônimos
que sabem servir sem reclamar...

E, entre cânticos de transbordante alegria, as rosas estranhas subiram rutilantes do Paraíso.

Ó vós, que lutais no caminho empedrado de cada dia, enxugai as
lágrimas e esperai! As flores mais sublimes para o Céu nascem na Terra,
onde os companheiros de boa-vontade sabem viver para a vitória do bem,
com o suor do trabalho incessante e com as lágrimas silenciosas do
próprio sacrifício.

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A Natureza é assim... Deus nos ensina se soubermos estar atentos...

A Natureza é assim... Deus nos ensina se soubermos estar atentos...
"Espíritas! Amai-vos, eis o primeiro mandamento; Instruí-vos, eis o segundo."