Era um dia quente. O ônibus estava repleto de pessoas. Algumas levavam sacolas, pacotes.
Outras seguravam bebês ao colo, enquanto outras mais procuravam acalmar as crianças inquietas, que tentavam atrapalhar a tranqüilidade de passageiros sisudos.
Fazia calor. Senhoras conversavam, dizendo das dificuldades de suas vidas, os problemas com os filhos, a falta de dinheiro, o desemprego do marido.
Jovens falavam em tom animado da festa projetada para o final de semana.
Um cenário comum. Todos os dias, as cenas eram mais ou menos semelhantes.
Que se pode esperar de momentos assim, tão comuns?
Mas, enquanto o ônibus ia sacolejando ao longo da estrada, num dos bancos havia um velhinho magricela segurando, com todo cuidado, um ramo de flores.
Eram flores lindas, frescas ainda. Deviam ter sido colhidas em um jardim muito bem cuidado, no alvorecer, beijadas pelo orvalho.
Do outro lado do corredor, uma garota não desviava os olhos das flores.
Eram lindas, exuberantes.
Então, chegou a hora do homem saltar do ônibus. Ele se levantou, caminhou em direção à porta.
Quando passou pela jovem, em um rompante, lhe ofereceu as flores.
Posso ver que você adorou as flores. – ele explicou.
Acho que minha esposa iria gostar de que ficasse com elas. Vou dizer para ela que dei as flores para você.
A garota aceitou o buquê, com um sorriso tímido, e nem teve tempo de agradecer.
O homem desceu do ônibus. Então, ela o viu atravessar a rua e adentrar os portões de um pequeno cemitério.
Para os que amam, a vida não se interrompe quando o corpo do amado desce ao túmulo.
Os que amam têm certeza de que o amor não morre nunca e continuam a levar em frente as suas vidas.
Naturalmente, com uma pequena ponta de tristeza, pela ausência física do ser amado. Mas, sempre em frente.
A cada dia, oferecem àquele que se foi o melhor de si.
Lembram os dias de felicidade, os passeios, os risos, as viagens.
Oferecem flores que, necessariamente não precisam ser depositadas sobre o túmulo. Podem ser dispostas num vaso, em casa, e ofertadas.
Ou mesmo, deixadas nos ramos, colorindo o jardim, bastando que se diga:
Amor, vê como estão lindas as rosas? Continuo a cuidar delas.
Em algum momento, quando lhe for possível, quando o Senhor dos Céus lhe permitir vir me visitar, você encontrará o jardim como você gostava: cheio de flores, perfumado.
Também cuido dos gerânios. Não esqueço de aguar as samambaias.
Um dia, quando o tempo esgotar a contagem das minhas horas na Terra, espero poder ir ao seu encontro.
Até lá, receba as flores das minhas lembranças. E as do nosso jardim.
Tenho certeza de que você não se importará que eu colha vez ou outra, algumas margaridas para ofertar aos vizinhos, aos amigos.
Como eu, eles não a esquecem.
Até breve, meu amor!
Pense nisso e, mesmo que sinta o coração faltando um pedaço pela dor da separação pela morte, viva!
Viva intensamente porque quem o ama deseja que você seja feliz, hoje, amanhã e depois... Até o reencontro.
Pense nisso!
Redação do Momento Espírita, com base no conto O presente, de Bennet Cerf, do livro Histórias para aquecer o coração, edição de ouro, de Jack Canfield e Mark Victor Hansen, ed. Sextante
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